23 de Novembro de 2024 – Esquerda.net
“O rural que tem sido marginalizado há anos”, mas agora os ativistas do litoral alentejano juntaram-se para resolver as crises sociais e ambientais da região em conjunto.
A Alcácer P’lo Ambiente bateu-se contra o megaprojeto de abacates que foi chumbado e a Dunas Livres luta contra o turismo de luxo, a agricultura intensiva e os megaprojetos de energia solar. Enquanto os Empregos Para O Clima querem assegurar uma transição justa em Sines, a PATAV propõe o fim do transporte de animais. O Juntos Pelo Sudoeste e o Juntos Pelo Cercal lutam contra megaprojetos energéticos e contra o “mar de plástico” em zonas diferentes. A Solidariedade Imigrante apoia os trabalhadores imigrantes que estão empregues na agricultura intensiva e o Reabrir a Galé defende a reabertura do parque de campismo nesse concelho.
“Unimo-nos, temos mais força e mais capacidade”, é assim que Kaya Schwemmlein, organizadora do encontro, descreve a reunião de organizações e coletivos de todo o litoral alentejano este sábado em São Luís, no concelho de Odemira, para fazer um balanço das suas lutas e articular ações para defender o litoral alentejano.
De manhã, reunidas no Centro CO.RE, um espaço de cooperação, comunidade e regeneração, as organizações partilharam o seu trabalho e procuraram encontrar pontes entre os seus diferentes trabalhos. Entre as intervenções, vão-se trocando dois dedos de conversa aqui e ali. Alguém explica que têm estado a trabalhar numa petição, e logo outros comentam que já entregaram a sua na Assembleia da República. Ao todo, diferentes coletivos já dinamizaram ou entregar seis petições, mas as soluções para os problemas não aparecem e a luta continua.
Seja contra o transporte de animais vivos ou pela reabertura do parque de campismo da Galé, os ativistas procuram novas formas de luta conjunta. Espalhados pelo território inteiro do sudoeste alentejano, são uma mão cheia de pessoas em cada ponto, mas aqui nesta sala, são mais de sessenta.
Há panfletos das várias lutas, comida vegan e rodas de conversa e debate. Ocupando o primeiro piso do Centro CO.RE, os ativistas aproveitaram as pausas para trocar impressões pessoais sobre os diferentes movimentos e perspetivas. Uns falaram de transição energética, outros de agricultura intensiva.
“Nós achamos que é preciso um movimento coletivo, com cariz urgente, para apaziguar as várias crises sociais que são derivadas de um modelo de desenvolvimento que não corresponde às necessidades das pessoas e do território”, explica Kaya, que entende que este encontro é um passo fundamental para isso acontecer.
No dia 5 de outubro de 2023, vários destes coletivos juntaram-se pela primeira vez em Sines numa manifestação que ficou com o mote “tirem as mãos do sudoeste alentejano”. É esse mesmo mote que volta a juntar este sábado essas e mais organizações para discutir o futuro do território. É a primeira vez que o Juntos Pelo Divor, um grupo com quatro meses que quer proteger a freguesia de Graça do Divor contra mais um megaprojeto energético, dialoga com estas organizações que têm objetivos semelhantes.
“Temos uma abordagem setorial, mas queremos ultrapassar isso. Uma abordagem multissetorial”, explica Kaya. É uma abordagem que trata os efeitos cumulativos de todos os setores. O encontro “foi positivo mas é “ainda o início” de um processo para criar estratégias conjuntas. Por isso, da parte da tarde, os ativistas deslocaram-se até ao Espaço Nativa para discutir problemas comuns, visões de futuro e estratégias para lá chegar.
Entre os temas debatidos estiveram a indústria, a energia e mineração, o turismo, a agricultura e o bem-estar animal. Em grupos, os ativistas pensaram como poderiam concretizar as mudanças necessárias para garantir a sustentabilidade do território. No fim, os temas interssecionaram-se. “Por exemplo, temos este problema de substituição da monocultura agrícola pela monocultura de painéis solares”, diz a organizadora, mas o objetivo é ir à raiz do problema e “ultrapassar essa mentalidade de monocultura”.
Em plenário final, foram abordados os desafios pela frente: a necessidade de chegar a mais gente, de criar movimento e de contestar as decisões das empresas, do governo e dos municípios, que são coniventes com os megaprojetos de energia e de turismo, mas também de agricultura. No horizonte está o agravamento de problemas como a seca, o aumento dos preços de habitação e a intensificação dos efeitos das alterações climáticas, mas há também uma esperança ao juntar tantas organizações para pensar o futuro. Por isso, os ativistas planeiam ações futuras, seja de manifestação, seja de aproximação da população, com o objetivo de serem ouvidos.
“Precisamos de dar voz ao rural”, afirma Kaya. “O rural que tem sido marginalizado há anos, mas agora as dinâmicas e tensões sociais são tantas e tão mais fortes que achamos que tem de haver uma pressão mais forte, e é isso que estamos a tentar criar aqui”.